Nasci em uma aldeia rural no sul do Brasil e morei lá até os quinze anos. “A Mesma Parte de um Homem” é sobre esse universo, bem conhecido por mim, das mulheres do campo, um assunto que raramente é visto e falado.

Eu penso nesse filme como um inventário familiar, que mostra a autoficção dentro de uma família, bem como seus papéis e padrões. Também tenho orientado minha escrita e pesquisa sobre o desejo feminino, pois acredito que esse desejo é guiado principalmente pelo sexo intrínseco e pelas construções sociais. Uma vez que a mulher libera seu desejo e seu corpo, dificilmente ela será guiada pela subserviência. Então foi muito importante trazer esse lugar de desejo reprimido e também de liberdade para o personagem principal. Também me interesso em trabalhar com a natureza, os animais e todas as simbologias que fazem o homem enfrentar suas fraquezas.

Optamos por fazer o filme com uma equipe composta majoritariamente por mulheres, para podermos dividir funções pela primeira vez, já que este é meu primeiro longa-metragem de ficção, e também o primeiro que tanto a Diretora de Fotografia quanto a Diretora de Arte assinam seus nomes como tal. Além disso, foi o primeiro personagem principal da atriz Clarissa Kiste em um longa-metragem. Todas essas mulheres já possuíam uma filmografia significativa, mas sempre acabavam sendo auxiliares. Por isso acredito que um filme também pode ser transformador, não só para os personagens, mas para todos os envolvidos no projeto.