Por sete anos, coincidentemente os anos de minha formação acadêmica em cinema, eu trabalhei como agente penitenciário numa prisão brasileira. Ali eu integrava a equipe ALFA, formada por 28 homens e mulheres, que dia sim dia não cumpriam sua jornada de trabalho ao lado de 900 detentos.

Ao longo destes anos eu passei a perceber o sistema penitenciário como um organismo burocrático vivo, mas acéfalo. E muitas vezes conversando com colegas de trabalho eu notava que todos nós, de alguma maneira nos sentíamos o braço deste ser vivo. No entanto, eu me sentia um braço algemado.

Esta experiência impar, a de poder não somente observar o funcionamento do sistema penitenciário brasileiro por dentro, mas de fazer parte dele, foi marcante para que eu decidisse fazer este longa metragem.

Paralelo a isto iniciei minhas viagens para festivais de cinema apresentando meus primeiros curtas metragens, e entre conversas e debates, ao revelar minha profissão “oficial”, notava que havia um grande interesse, desconhecimento e preconceito sobre o que se passa dentro de um presídio e sobre quem são os “carcereiros”. A cada conversa a ideia do filme se tornava mais forte e urgente.